quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“Mendonça”


                                                         JOÃO Câmara/rn

Em dias atuais, os “Mendonça” vivem numa comunidade localizada a dez quilômetros
da cidade de João Câmara, chamada Amarelão com mais de duzentas famílias e que ainda
hoje vivenciam conflitos de terras. Este grupo resolveu aderir ao MST, por volta da década de
noventa, conseguindo apenas legalizar um assentamento, o de Santa Teresinha, com vinte e
cinco hectares e que abriga cerca de cento e trinta famílias dos Mendonça. Hoje são mais de
duas mil pessoas que vivem no Amarelão e no Assentamento Santa Teresinha.
A origem desse grupo, conforme relatos da história oral, está ligada aos antigos
Tapuia(2) que se deslocaram do Brejo da Paraíba (3) ,fixando-se no Amarelão, onde
permaneceram, formando uma comunidade estruturada por laços de parentesco. O Brejo foi
um aldeamento indígena com a invocação de São João, habitado pelos índios Tapuia de
Fagundes, sob as ordens de um missionário capuchinho. O topônimo “Amarelão”, por sua
vez, de acordo com uma das versões presentes na tradição oral da região, estaria vinculado aos
Tapuias que eram “amarelos”, ou seja, tinha a tez “acobreada”, daí o lugar receber essa
denominação peculiar. No entanto, há outras versões que são relatos sobre antecessores que
4
vieram de Bananeiras(4). Conforme dados históricos, a Serra de Bananeiras situava-se na
antiga Capitania da Paraíba do Norte, onde existia o aldeamento indígena de Boa Vista.

O historiador potiguar afirma ainda que a descendência dos casais se entrelaçou, dando
origem aos “Mendonça” do Amarelão, que se agruparam em uma aldeia (5). Ainda hoje os
“Mendonça” preferem casamentos endogâmicos (uniões no próprio círculo familiar), o que,
de certa forma, torna o grupo resistente e coeso, se diferenciando da população da cidade, que
os considera de forma discriminatória, denominando-os “índios”, “ciganos” e ou “cab’ôcos”.
Luís da Câmara Cascudo faz também menções ao grupo, quando ele se refere aos
deslocamentos e às migrações indígenas no Estado:

“Pelos trilhos, dez quilômetros além, estendia-se o Amarelão onde os Mendonças
moravam há mais de um século em regime tribal, mestiços de Tupis, fugidos dos
aldeamentos que se tornaram vilas (...)”. (CASCUDO 1995:37).
Tantos os relatos da história oral dos entrevistados do grupo quanto os dados
históricos, através dos registros oficiais, levam a crer na origem indígena dos Mendonça. Essa
família, por sua vez, também apresenta uma memória genealógica indígena. Isso determinou,
inclusive, o uso comum entre eles da referência identitária: “Mendonça”. Esse “apelido”,
como eles preferem assim chamar, refere-se aos antecessores indígenas, acima assinalados
por Nestor Lima, que chegaram àquela localidade por volta do século XIX, povoando o
“Amarelão”.

FONTE: MENDONÇA E ELEOTÉRIO:
ORALIDADE, MEMORIA E IDENTIDADE INDÍGENA DO RN

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